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Palavra
de
honra:
jamais
imaginei
que
o
carioca
gostasse
tanto
assim
de
ponte.
Depois
dela,
tudo
o
mais
perdeu o
significado.Só
se
pensa
na
ponte,
só
se
fala
na
ponte,
só
se
passa
na
ponte.
E surpreende
até
que
o
carioca
tenha conseguido
sobreviver
durante
tantos
anos
rodando
por
cima
dos
insignificantes
viadutos.
A
visão
da
Ponte
domingo
passado
entortaria a
cuca
de
qualquer
visitante
recém-chegado. À
distância,a
cena
daqueles
carros
todos
escapando
pela
Ponte
dava a
impressão
de
retirantes
fugindo e
um
novo
surto
de
gripe
espanhola. O
acontecimento
transbordou pelas
páginas
da
imprensa
internacional
e levando a
cobiça
de várias
firmas
internacionais
que,
aproveitando a
nova
mania,
já
remeteram
propostas
para
a
construção
de
pelo
menos
10
pontes
ligando a Guanabara
aos
mais
diferentes
pontos
do
país.
Algumas
firmas,com
projetos
mais
modestos, se propõem
ligar
a Guanabara à
Guanabara
mesmo,
como
uma canadense
que
sugeriu a
construção
de uma
ponte
sobre
a
Lagoa
Rodrigo de Freitas.
Mas
não
são
apenas
os
estrangeiros
que
querem
tirar
proveito
desse
rendoso
negócio.
O
empresariado
brasileiro
também
se mobiliza
para
investir
no
ramo.Ricardo
Amaral,
dono
de uma
cadeia
de
lanchonetes,
mostra-se
agora
propenso
a
construir
uma
cadeia
de
pontes.
E Hubert Castejá,
proprietário
da
Boate
Black Horse, está
pensando
em
fechar
a
casa
e
abrir
uma
ponte.
As
madames
fazem da
Ponte
o
assunto
preferido no
cabeleireiro,
e as
mães
dizem aos
filhos
que
“ se
não
se comportarem
direito
não
passam na
Ponte”
e os
cidadãos
que
sempre
andam de
táxi
estão comprando
um
carro
só
para
atravessar
a
Ponte(
já
que
seus
construtores
não
tiveram a
menor
consideração
com
os
pedestres).
Impressionadas
com
o
sucesso
da
Ponte,
várias
agências
de
turismo
incluíram-na
nos
seus
roteiros
pelo
Rio.
Já
é
possível
se
ler
nos
impressos
de algumas
agências:
“Tour
pelo
Rio
–
com
Ponte:
Cr$ 120,00;
sem
Ponte:
Cr$ 80,00”.
Não
vai
demorar
muito,
as
companhias
imobiliárias
lançarão a
Vivenda
d'
Netuno,
anunciando
em
seus
prospectos
“
sua
última
oportunidade
de
morar
debaixo
da
Ponte”;
o
teatro
rebolado
aparecerá
com
uma
revista
Tem
Bububu no Bobobó da
Ponte
e o
dono
de
um
restaurante
incluirá
em
seu
cardápio
um
“filé
à
vão
central.”
Uma
loucura,
meus
irmãos.
Quem
ainda
não
atravessou a
Ponte
é
olhado
com
ar
de
desprezo.
Outro
dia,
fui arrastado
para
uma
reunião
social.
Quando
perguntaram se
eu
já
havia
passado
pela
Ponte
e respondi
que
não,
quase
me
botaram
pela
porta
afora.
Fiquei acuado num
canto
da
sala
cercado
de
perguntas:
mas
você
ainda
não
foi?
Precisa
ir.
E seguiu-se uma
infinidade
de
adjetivos
grandiloqüentes:
é
monumental,
é uma
beleza,
é
jóia,
é
espetacular,
é uma
segurança,
é
formidável.
Compararam-na
com
os
Jardins
Suspensos da
Babilônia,
com
o
Farol
de Alexandria,
com
a
Muralha
da China e
evidentemente
não
faltou
quem
dissesse
que
é a
maior
do
mundo.
Quer
dizer,
agora
somos
também
campeões
mundial das
pontes.
Nem
mesmo
o
preço
do
pedágio,
alto,
tem desencorajado a
moçada.
Os construtores acham
até
que,
se cobrassem o
mesmo
que
foi cobrado
para
o
show
da Liza Minelli,
todos
pagariam. Tem
gente
deixando de
comer
para
atravessar
a
Ponte.
Alguns
gastam o equivalente a
uma
noitada
em
boate
com
a
nova
diversão.
Sábado
passado,
um
vizinho
nosso
pagou uma
conta
de CR$ 220,00 de
pedágio.
Deslumbrado
com
a
grandiosidade
da
obra,
passou
horas
circulando pr’a e
pr’a
cá,
pr’a
lá
e
cá.
Um
outro
conhecido
desembolsou CR$ 180,00
num
só
dia.
Mas
este
não
estava
muito
preocupado
com
a
grandiosidade
da
obra.
Apenas
paquerava uma
menininha do
posto
de
pedágio.
Enquanto,
porém,
o
contribuinte
empobrece, o
motorista
de
táxi
fica
rico.
Estão atravessando a
Ponte
com
bandeira
cinco.
Cobram
até
CR$ 100,00 a
depender
da
cara
do
freguês.
Se tiver
cara
de turista, cobram
mais.
Para
os
motoristas,
a
nova
brincadeira
transformou-se numa
lucrativa
fonte
de
renda.
Ou
melhor,
ponte
de
renda.
Do
outro
lado
da
Ponte
então
está Niterói. O
que
não
tem a
menor
importância.
Poderia
estar
Tribobó,
Campos,
Salvador
e
poderia
até
não
estar
nada
que
o
carioca
seguiria
em
frente
de
qualquer
maneira.
Os
cariocas
já
descem do
outro
lado
perguntando pelas
boates,
bares,
restaurantes,
boutiques.
Assumem
um
comportamento
de turista.
Alguns
chegam a
enviar
postais
para
os
amigos
no
Rio
.
Atualmente
tem
mais
carioca
em
Niterói do
que
brasileiro
em
Buenos Aires. No
último
fim
de
semana
,
eles
invadiram a
cidade
como
verdadeiras
divisões
panzer, acabando
com
toda
a
comida,
estacionamento,
bebidas
e,
principalmente
a
paciência
dos
niteroienses.
Diante
desse
quadro,
o
índio
Araribóia
não
deve
estar
entendendo
nada.
A
terra
treme
sobre
sua
cabeça.
Fundador
da
aldeia
de
São
Lourenço,
que
hoje
é Niterói e
amanhã
ninguém
sabe o
que
vai
ser,
Araribóia entrou
para
a
história
do Brasil
pela
porta
do
heroísmo,
ajudando Estácio e Mem
de Sá no
combate
e
expulsão
dos franceses do
Rio
de
Janeiro.
Nesses
últimos
dias,
sua
figura
vem sendo lembrada
com
muita
freqüência
pelos
niteroienses.
Todos
eles
gostariam de tê-lo
vivo
para
novos
combates.
Dessa
vez,
contra
os
cariocas.
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